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sábado, 21 de dezembro de 2013

Lembranças

"Diga que eu mandei lembranças."
Depois de tanto tempo
É só o que eu posso oferecer

Nem abraços nem beijos
Nem sorte
Saudade um tanto menos

Lembranças dão e chega
E foi só porque eu encontrei
Sua amiga andando perdida

Parei pra cumprimentar
Porque sempre fiz a fina

E desnorteada como ela só
Tocou no seu nome,
Como se eu quisesse  saber

Olhei com os olhos impacientes
Que você conhece bem
mandei lembranças breves
E fui embora sem olhar pra trás

Lembranças...

E por azar
Ou implicância
Dessa vida
Confundida

Sonhei com você a noite toda
Acho que foi pelas lembranças.
Sonhos são lembranças noturnas não?

Que seja.
Eu paro por aqui.
É o que eu levo de você
E o que você leva de mim.

Sorrisos amarelos
De inevitáveis desencontros
Sonhos,  vez ou outra
Todos eles sem importância

Engraçado observar
É que outrora
Significaram tanto


Mulher

Só quem já viveu sabe o que é
Línguas, mãos, suor
Gosto de mulher

A beleza mais delicada
Agressiva,
Macia e instigante

Te aperta, te morde
Te come e te lambe
Te abraça, te acolhe

Te aconchega
Te deixa
Te esquece

Pisa, ignora
Mas você quer!
Você corre atrás

Quer ter de volta.
Sem perceber
Que nunca teve

Ela é dela
Só dela

Ainda que tenha se repartido
Se abrido
E se permitido

No fim da noite
Ela ainda é dela
E não adianta
Não a nada a se fazer.

Ela é dela.
E é assim que tem que ser.


segunda-feira, 2 de dezembro de 2013



Um dia a gente se emenda

Se acerta

Se encontra

Ou então se conforma

Aceita

Se aceita

Para de procurar

E se perde

Refaço



Anseio o encontro

Já que me encontro no estado

De sentir tamanho peso sobre mim

Que do meu próprio peso

Nem sei mais




Tamanha densidade de vida

Ou a falta de
Pausam-me os sentidos
Interrompem vibrações
Matam-me de instantes

Aliás,
Se fosse pra dar nomes
Diria sofrer de instantes
Dos mais variados tipo

Mas todos eles
Insuportavelmente precisos
Necessários
Odiosos e desejáveis

E como eu dizia,
Anseio o encontro
Cachoeira, chuva, ou maresia.
Desses paraísos naturais
Belas reservas de energia

Misturo-me

Viro chuva
Viro queda
Viro onda
Viro água

Escorro, liquefaço-me, evaporo.

Sou nova,
Leve
Sou outra.

No próximo mês,
Venho abraçar-te de novo.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

E Alguém Vai dizer que é Exagero



Acreditava ser dona de si

Tola.

Não era dona de si a muito.

Na verdade, nunca fora.
Nunca se pertenceu

Sempre a outros,
Sempre a vários
Menos a ela própria

Desde o primeiro momento
Seu choro sofrido do nascimento
Sabia que se perdia ali

A levaram pra longe da mãe
E cometeram o maior ato de tortura
Furaram-lhe as duas orelhas
Não pediram licença,
Aos pais –talvez-
Mas nunca a ela

E nem deveriam
Desde já saberia seu lugar
Submetida as vontades e julgamentos alheios
O dourado das suas orelhas
Ardiam como marca de ferro quente
Nos bichos que estão no pasto

Porém o que se seguia
Era um amor sem medir
Que atenuavam as dores
As primarias e as por vir

Não sem cobrar nada, porém
Percebeu logo que todo esse afeto tinha um preço
Tratada como princesa
Deveria se portar como tal

Seu corpo foi sendo novamente submetido
A tudo e todos
E quase nunca a ela.

Aos três anos, não pode brincar de carrinho
Ou escolher outra cor

Aos cinco, disseram
Tira mão daí
Que pra menina isso é muito feio

Aos sete, queria fazer esporte
Mas com medo de que se tornasse bruta demais
Foi pro ballet

Não pode cortar o cabelo curto, aos oito
Porque a confundiriam com os meninos

Aos dez, ficou mocinha
E não pode mais usar bermuda curta
Que isso não são modos de dama

Nem falava alto
Nem brincava na rua
Pois tinha tarefas domésticas
Nunca podia escolher

E sempre que questionava
Recebia como resposta
Que o mundo era assim

Cresceu sob grades cor-de-rosa
Casou-se com um bom partido
Não que fosse da sua inteira vontade
Mas pelo que diziam parecia o certo

Foi mãe sem vontade nenhuma
Não de um, mas de três

E ainda assim
Lhe julgavam pelas estrias e celulites
Foi pra academia e fez dietas de fome
Sem vontade nenhuma

Precisou ouvir
Que se fosse deixada
A culpa seria do seu desleixo

Precisou ouvir
Que se os filhos aprontavam
É porque não tomava conta direito

Precisou ouvir
Que não trabalhava fora
Por que era folgada

Nada disso no entanto
Parecia lhe atingir

estava tão acostumada, a ser subjugada
Que vivia na inércia
Como uma maquina a seguir padrões

Nunca foi feliz com seu corpo
Nunca saciou suas vontades
Nunca teve um orgasmo
Nunca pediu por nada disso

Mas sua vida seguiu os conformes
Pois tinha cometido, talvez o maior dos pecados
Tinha nascido mulher.
E toda violência, lhe era justificada.
Gravura: Edward Hooper

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Tempos Outros

E da minha vida
Vos digo:
Ando perdida

Sem rumo
Sem tino

Sem saber se vou se racho
Tempesteando em copo d’água
Apostando na sorte,
No horóscopo
No tarô
Nos testes de revista

É ou não é, caso de gente repleta de estranheza?
E digo mais,
Ando por aí
Enxergando outras belezas

Ando achando bonito
As coisas mais absurdas
De raios em dias chuvosos
E coleções de guarda chuva

Ando admirando gente diferente
Daquelas caixinhas tão conhecidas
Gente que assume o que sente
Que não reclama da vida
Outro dia me vi encantada

-veja você-

Com a moça que vi no espelho
Que me parecia tão sem graça... Sem tempero
Agora com brilho nos olhos, sorriso faceiro.
Neste dia, coloquei minha melhor roupa

E saí de batom vermelho.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Fluxo

Quantos gritos cabem no teu silêncio??
Quantas lágrimas guardam o teu sorriso?
Quantas doses de saudade cabem na tua ausência?
Quantas doses de ausência cabem nessa cachaça?
De eternas reticências
Vamos caminhando nas entrelinhas
Por onde o tempo nos permite
Anestesiando cada metáfora
Desafio cada verso
Prosa
Poesia
Descrevendo esses passos falsos
Certezas fingidas
Histórias quase findas
Lembranças desafiadoras
Dor na memória
Quantas memórias carregam tuas histórias?
Amanhã talvez esqueça
Amanhã
Ah! A manhã!
Que vire vapor
Que molhe cada flor.
Enquanto houver amanhã
Ah, manhã
Orvalhada de amor.



segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Saídas

Não fui feita para jogos amorosos.

Destes que desestabilizam a gente
Esfriam o estômago
E bambeiam as pernas

Não fui feita pra brincar de amor
Pra passar noites em claro
Planejando sozinha
O futuro a dois

Escrever e apagar
Mensagens de texto
Tecer cartas à rima
Pra guardar no fundo da gaveta

Não fui feita pra esses enlaces românticos
De parar de pensar em tudo
E pensar em uma coisa só
Até o corpo não aguentar mais
E a lagrima começar a cair
Até a garganta não suportar o nó

E gritar

Tentar traduzir
Sentimento tão nobre
Confuso
E louco

Não fui feita pra planejar casamentos
E futuro conjunto
Esperar o para sempre
E vendo quão devaneio
Essa ideia lhe parece
Embriagar-se mais uma vez

Não de amor.

Por hora ,
Destilados
Que anuviam a mente
Apaziguam os pesares

Outras drogas quaisquer
Licitas ou não

Embriagar-se de amor fútil
De prazer onde eu couber
Ou de fingir prazer
Com amante qualquer

Ressacar-se por dentro e por fora
Em todos os dias porvir
De culpa
Sem ter porquê

Não fui feita pro amor e suas drogas
Mas ironia do destino
Sinto tanto amor

Que mal caibo dentro de mim.


terça-feira, 20 de agosto de 2013

Bibelô

E de repente,
Eu decidi te deixar ali.

No cantinho
Da agenda
Da lembrança
No cantinho do coração

Pra que  quando você voltasse

(Porquê, você havia de voltar)

Não tivesse muita coisa diferente
Só eu mesma,
Ali,
Onde sempre estive.
Pronta pra ouvir
Suas aventuras
Seus segredos.

Eu esperei.
Poderia esperar pra sempre.

Mas...

Você demorou tanto.
Me conhece bem
E Sabe como é...

Até o meu
Para sempre

Pode ser inconstante demais.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Dois ou Um

(Dramaturgia)
1
-Quatro dias. Já se passaram quatro dias e nada!
-espera mais quatro
-não! Daí vai ser a teoria dos oito dias e não dos quatro. Você não entende?
Iremos explicar agora em que se consiste a teoria dos quatro dias. Após anos e anos de estudo na técnica milenar, cientistas chegaram a famosa teoria dos quatro dias. A teoria consiste em que a paixão instantânea pode durar no máximo quatro dias. Explico. Quando você conhece alguém e se apaixona imediatamente, pode se permitir essa sensação por quatro dias. Passados quatros dias o sentimento simplesmente some. A não ser, que tenha havido algum contato entre as partes dentro desse período, que então automaticamente é prorrogado por mais quatro dias. E assim consecutivamente.
-Você é maluca, onde já se viu? Teoria dos quatro dias...É cada uma!
-funcionou muito bem até hoje, até ele aparecer. Que saco.
-Sempre tem uma primeira vez.
-As primeiras sempre tem vezes!
-O céu está bonito.
-Está sim.
2
Significado de paixão: Sentimento excessivo; amor ardente, afeto violento, entusiasmo, cólera, grande mágoa, vicio dominador, alucinação.
Ela estava apaixonada. Coitadinha. Um encontro e estava apaixonada. Essas pessoas deviam dar seu cérebro pros cientistas entenderem o que se passa dentro dele.
-ele visualizou. Visualizou e não quis responder. Pode isso?
PODE ISSO?
-histeria
-Tem um celular vibrando
-É ele! É ele! É ele!
- Ele sim, o cara do banco te cobrando. Desiste de amar e vai trabalhar!
- Oh mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo...
-Você seria homem.
-Você anda muito dramática. Ninguém te aguenta mais!
-Recebi uma resposta!
Eu mandei uma mensagem dizendo bom dia! Que sair com ele foi muito divertido e que acho que a gente podia remarcar outra hora. Ele respondeu, foi realmente divertido! A gente remarca sim. Bj
-BJ? Bj? Custava escrever? Beijo? Custava?
-Acho que custava.
-Mas agora acabou. Já tem 5 dias, não houve contato entre as partes segundo a teoria já acabou.
Finda a paixão entre 1 e 2. Hora do óbito 14:28h do dia 12 de abril de 2013. Causa do óbito: cinco dias sem assistência e/ou falta de medicação.
-Essa eu quero ver.
-Apaga o numero dele então! Apaga! Quero ver!
-Exclui do facebook!
-Apaga todas as mensagens antigas.
-Rasga aquela foto
-Pixa a casa dele~.
-Fura o olho dele.
-Parem de falar! Eu não vou fazer nada. Se não me quer então não quer. acabou.
-Vai saber se ele não quer né....
-vai saber.
3
-oi
-oi
Dois beijos na bochecha! Dois beijos! Nunca entendi o porque de dar dois beijos, mas deve ser um bom sinal. Dois é melhor que um.
-fiquei surpresa de me ligar...
-queria ter ligado antes, mas ando bem ocupado.
Silêncios são sempre muito constrangedores quando se falta intimidade. Alguma coisa legal pra falar, alguma coisa criativa, alguma coisa que mostre o quão especial é sua personalidade.
-minha tia toca violão.
-É? .... hum.
-Muito bem.
-hum
Dois silêncios. Dois silêncios. É, houve um equivoco, nem sempre dois é melhor que um.
-Eu disse isso porque sei que você toca...Eu, bom, gosto de quem toca. Violão! É...é legal tocar instrumentos.
-Sim. É bem bacana. Você toca?
-Não. Mas eu escrevo.
-É mesmo? Que legal! O que você escreve?
-Bom, você sabe, palavras, frase e tal.
Silêncio
-Brincadeira! Escrevo poesia, as vezes músicas também.
-Você pode me mostrar um dia desses! Bom, eu vou indo foi legal passar a tarde com você.
Dois beijos na bochecha.
-dois beijos na bochecha e nenhum na boca. É realmente, nem sempre dois é melhor que um.
4
-Ta difícil! Eu não sei o que ele quer, cada hora penso uma coisa!
-Tipo aquela musica?
-qual?
-Teus sinais, me confundem da cabeça aos pés...
-É tipo essa musica!
-Sabe outra musica que encaixa?
-qual?
-Eu gosto tanto de você que até prefiro esconder, deixo assim ficar subentendido...
-como uma ideia que existe na cabeça e não tem a menor pretensão de acontecer...
-É. Mas é triste. Sei lá. Só queria que desse certo. To carente, odeio me sentir assim!
-deve ser o inverno.
-pode ser. Me beija?
-Sempre que quiser!
Cena 4
-Ela é tão maluquinha. Mas é encantadora não é?
-definitivamente. Encantadora.
-Acho que gosto dela. Mas não sei.
-não sabe se gosta?
-não sei o que fazer! Gostar é muito complicado, vem tanta coisa ruim junta..
-Mas também vem muita coisa boa.
-Isso é verdade. E ela é tão linda.
-E pequena!
-Parece uma boneca.
-Quem olha pensa que ela é frágil, mas é só conversar cinco minutos...
-Vê que ela não tem papas na língua. Acho que é isso que gosto nela. Menina cheia de paradoxos! Simplesmente encantadora. Mas por hora, não vou fazer nada. Aliás, vou sim. Vou chegar naquela outra menina da mesa. To carente! Deve ser o inverno.
-vai lá.

Irônico demais. Se um dos dois tivesse coragem...Uma ligação bastaria. Uma só. Meia dúzia de palavras. Mas não, ambos engasgados no orgulho, saciando sua fome um do outro em outros braços qualquer. Tempos modernos e bagunçados. Ninguém mais deve admitir que ama. Tempos modernos e bagunçados.
5
-a gente se encontrou hoje. Meio por acaso. Ah! Senti borboletas no estômago! A quanto tempo não sentia isso?
-E o que você fez?
-conversei normal. Mas rola um clima. Eu sei que rola. Vamos sair hoje a noite. Eu vou jogar a real.
-vai mesmo?
-provavelmente não.
-imaginei.
-Mas posso tentar, sei lá, de repente fazer uma transmissão por telepatia. Pode funcionar.
-pode sim.
-ou escrever uma sms
-provavelmente funcionará mais.
-É, eu sei.
6
-Como foi ontem?
-Foi legal, nos divertimos bastante. Nos beijamos no final da noite. Mas não sei...
-O que você não sabe?
-Não sei o que ta rolando. Hoje é sábado, queria vê-la...sair com ela...Mas não sei. Ta complicado. Acho que vou ali pular do prédio. Bem rapidinho.
-Sossega Carlos! O amor é isso aí que você está vendo! Hoje beija amanhã não beija, depois de amanhã é domingo, e segunda feira, ninguém sabe o que será*...
7
-E como foi ontem?
-foi bacana, mais sei lá...Acho que to muito apaixonada...To com medo de não dar em nada, já sofri tanto nessa vida, não sei se estou disposta a me arriscar de novo
-Deixa disso mulher! Você é tão jovem! Ninguém morre de amor! Cura esse coração e vai na fé! Vai que agora é a sua hora.
-Mas tem tanta chance de dar errado...O mundo é tão grande! Tem tanta gente nele...Ele pode conhecer outra garota, pode enjoar de mim, pode me deixar, me trair, me usar...
-Mas e se apesar de tudo isso, der tudo certo? E for lindo?
-Ainda se for lindo, há de acabar um dia! Não existe o pra sempre, a felicidade é sempre finita!
-Só te digo uma coisa. “As coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão”.
 8
-que bom te encontrar
-bom te ver também
-queria poder te ver sempre
-que coincidência!
-te ver assim bem de perto, quase colado!
-te ver assim envolta pelos meus braços...
-sentir sua respiração pertinho, seu cheiro, seu gosto...
-jogar contigo, aquele jogo...Aquele que a gente sabe bem.
-Pelo tempo que durar...
-O quanto durar...
-Gosto de você.
-Também gosto de você.
Beijos.

Realmente, dois é sempre melhor que um.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

O Palhaço

Ironia é um palhaço ser tão triste
Faz sorrisos imensos
Alegrias sem fim

Pinta de colorido tantas noites em preto e branco
De casais destemperados
Crianças que ainda sonham
Velhos que ainda lembram

Provoca o riso dos mais mal humorados

Felicidades fugazes
Irrisórias

O palhaço não ri

Pinta de batom um sorriso falso
Usa as cores da alegria pra esconder
Sua alma preta e branca
Cinza

Sua falta de cor
De tempero
De temperança
De desespero
Desesperança

Irônico é esse palhaço que não ri

Não sente vontade
E nem tenta

Gastou todos seus sorrisos
Para a plateia de desconhecidos

Ele já nem se lembra
Como é rir de verdade

Não de pintura
Não de poema

Por detrás do picadeiro
O palhaço chora

Sozinho
Quieto
E triste

Seu destino é esse
Espalhar risos noite a dentro
Vida a fora

E segurar sozinho

Sua alma que chora

Quente.


Amor no jogo.
Sorte no azar.

Tão logo te vejo
Tão cedo me perco
Procuro o encontro

Teu beijo
Teu cheiro
Teu gosto
Teu sexo

Mas já é hora de dizer adeus
O dia já chega
Vai logo com os seus

Que nosso jogo
Dura a madrugada
É pouco
Mas melhor que nada

Que a nossa sorte
Ninguém pode ver
Mas a gente sente
E como sente
Só eu e você

Mas o azar
É que dura tão pouco
Esse amor impróprio
Esse amor tão louco

Mas fica mais.
Ainda é cedo

Encosta aqui
Sem jogos
Sem medo

Poema Curto

Amor no jogo.
Sorte no azar.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Vômitos e Paradoxos

-Eu vomito palavras. Sempre fui assim. Custo a ter coragem de dizer o que eu sinto, mas quando sai, sai assim, um escarro. Sou péssima pra dar noticias ruins, vai ser sempre olha, seu cachorro morreu. Sou péssima. Não é insensibilidade, é só que eu...Vomito palavras.

Risos

Maitê era assim, vomitava palavras, aquelas que geralmente já embrulhavam seu estomago por algum tempo. Às vezes, segurava a ânsia, sempre tendo a impressão de estar se provocando uma úlcera. Mas de um tempo pra cá, tinha decidido, não amargaria com nada sozinha. E se sentiu bem. Algumas pessoas não gostavam do que ela dizia. Paciência. Não dá mesmo pra agradar todo mundo. Chamou seu novo traço de personalidade de bulimia poética. É um bom titulo pra um livro. Ou uma música. Estava começando a conhecer Diogo, e a vomitar palavras nos seus ouvidos.

-Eu gosto de gente sincera. Mas realmente, o mundo não está preparado pra sinceridade. As pessoas se iludem. Dizem querer saber a verdade, mas não querem. A ilusão é um refúgio, e as pessoas... Bem, o ser humano é paradoxal.

Diogo era um garoto cheio de paradoxos. Como, segundo ele todos os seres humanos são. Algumas pessoas podem chamar de hipocrisia, mas pra ele é só que cada um carrega um pouco de tudo dentro de si. Conviver com seus próprios paradoxos, isso sim é um desafio.

-Por exemplo, você não pode acreditar no discurso de uma pessoa sobre ela mesma, porque na maioria das vezes eles não conhecem seus próprios paradoxos. Cada um diz de si, só aquela parte confortável, e inegável. Você por exemplo, diz que vomita palavras, eu poderia acreditar que você fala exatamente sobre tudo que sente, mas eu sei que não é verdade, porque você disse que também é orgulhosa. Encontrou o paradoxo? Uma pessoa orgulhosa jamais vai dizer tudo que sente.

Silêncio

Diogo tinha razão. Ela era orgulhosa e escondia seus sentimentos por ele há algum tempo. Sentimentos esses que reviravam seu estômago todas as noites antes de dormir. Porém, era realmente a única coisa que estava guardando desde que tinha decidido falar sobre tudo. Mas enfim, era seu paradoxo.
Os dois ficaram alguns minutos em silêncio.

-Eu gosto de você. Não como amigo... Estou... Apaixonada. -Vomitou ela

Mais alguns minutos de silêncio.

-Eu já sabia.

-Pode ser sincero, eu prefiro assim.

-Eu não gosto de você 

vomitou ele, para a surpresa dela, sem rodeios, sem cuidados.

- Você disse que preferia assim.

-Acho que eu estava enganada.

-Também imaginei isso. Como eu disse, o ser humano e seus paradoxos.

Novo silêncio. Os dois estão deitados numa grama, sob o céu. Seria um cenário perfeito para um começo de romance, mas já que estamos falando em vômitos e paradoxos...

-Me desculpe, mas é que eu gosto de outra pessoa.

-Tudo bem, você não tem que se desculpar.

-Seria mais fácil gostar de você...

-Talvez.

- Mas não podia ser fácil, nem pra mim nem pra você. A vida é uma lama mesmo.

- Pois é cara. Que merda. Que merda...

Terminou a garota engolindo de volta tantas palavras que queria ter dito e pensando num sério tratamento pra essa bulimia poética. Doença, que ela mesma tinha inventado pra si.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Domingos Republicanos


Cenário: domingo a noite. A casa estava suja e fedia. E nós, estávamos com a cara de derrota de quem bebeu pra caralho na noite anterior, passou o domingo se sentindo uma ameba, e agora, começa a refletir sobre a existência. Os três. Ressacados, embrulhados e se perguntando o porquê disso. Sentamos na varanda, cada um ascende seu cigarro, eles fumam de palha, eu de filtro, a fumaça sobe e dá um pouco de alívio no peso da cabeça. Buscamos um assunto, mas claro, não dá pra fugir da noite anterior. Legais que somos, cada um se ocupa de lembrar do outro das maiores merdas feitas. E ai começa aquela espécie de disputa.
-Cara, você tava muito louco!  Subiu no palco pulou na galera!
-É eu tava louco mesmo, mas e você? Que sumiu por duas horas, ficamos te procurando feito doidos! Onde você estava? Mandando mensagens pra todas as suas ex da história. Olha aí o seu celular!
Todos riem, faz-se silêncio.
-Cara eu também tava muito ruim. Parei num grupo de gente que eu nem conheço e comecei a falar de política! Não sei que rumo a conversa tomou, que eu comecei a chorar, o grupo era de psicologia, ficaram me analisando e falando da minha família.
-Pô, que bad.
-Só.
-Você vomitou no show...
-É, eu sei. Que bad.
-Só.
-Eu também liguei pra ex.
-Sério? Que bad.
-Só
-Eu também liguei pra minha. Bad total mano, só.
Novo silêncio. Nós três havíamos terminado um namoro recentemente. E, por isso, mas não só por isso, estávamos a nos embriagar nas noites de sábado, e a morrer de ressaca, nos dias de domingo.
-E você acha que não tem volta?
-Acho que não cara. A gente briga demais. Ela não aceita meu jeito, eu não aceito o dela, é foda.
-Que bad.
-E você, acha que tem volta?
-To de boa mano. To formando, vou dar linha nessa cidade. Mulher tem muitas aí no mundo.
-Só
-Nós conversamos hoje, talvez a gente volte. Mas não sei.
Novo silêncio. Apesar disso posso apostar que o pensamento foi em comum. As nossas noites de fazer merda eram as melhores. Um de nós debandar do “clube dos solteiros” (ou clube dos largados) faria muita diferença no time. Terminamos o cigarro em silêncio.
-Vou fazer um café.
-Não cara, pega uma cerveja.
-Sério? Cerveja?
-Cerveja.
-Cerveja.
-Cerveja. Só.

Brindamos a ressaca de domingo com mais uma gelada. A gente queria se abraçar, mas não o fizemos. Certas coisas ficam melhor se subentendidas.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Adaptação do texto "A Cicatriz é a Flor" de Newton Moreno

Diz, minha pele quer te ouvir.

Carrego comigo cada silaba tua.

Eu nunca vou perder a Memória da tua voz.

Acabou.

Lasciva, abri nosso diário membro a membro beijo a beijo letra a letra.
E me pus nua para outros, vários
Ofereci tua delicadeza
Rompi o silêncio por debaixo das vestes

Como se me lançasse numa suruba de cegos
Eles percorriam em êxtase nossas palavras
E entendiam nossas trocas em casa parte minha

Reconheceram o amor por suas pegadas e diziam,:
“Por aqui passaram amantes”
Marcando a ferro sua jornada

Beijavam meu corpo com os dedos
Dedos rápidos como o prazer que engoliam
Como se devorassem nós duas pelo tato

Um exército de cegos me penetrando com seus dedos
Me fizeram gozar tremer desmaiar

Línguas ásperas e mornas, me lendo com gula
Rasgaram nossa pele, machucando rimas
E borrando a caligrafia estudada de nossas horas

Ardiam metáforas de sangue a cada corte

Sofri minhas lágrimas e as tuas, enquanto
Embriagava-me em cada gozo

(pausa)

Perdão,
Mas... Quando o outro leu você no meu corpo...  Eu te amei tanto...

Acabou.

Você não tem lembrança alguma gravada na tua pele,
 Você se lava e fica limpa. E fica outra.
Eu me lavo e deságuo sempre em mim mesma.
Sempre.
 Eu me lavo pra dentro do mesmo cheiro.
 Eu me armazeno.
 Vocação para gaveta, álbum, arquivo.
Eu fico pra testemunho.

Acabou.

2 de março de 2003
Você se lembra?

Que o tempo seja nosso cúmplice.

Na raiz.

Paz.

Acabou.

A carne mais preciosa está sobre o coração.
             "A cicatriz é a flor."

Acabou.











segunda-feira, 29 de julho de 2013


Eu só preciso que você se apaixone por mim.

É pedir demais?

Daí a gente se beija,
Se abraça,
Troca carinho,
Faz amor,
Não parece certo?

Somos tão bons juntos
Tão melhores que separados...

Você é tão apaixonante
E eu tão apaixonável

É só o que eu te peço.
Que se apaixone por mim

Podia pedir satisfação
Explicação
Respostas

Mas não preciso de nada disso
só quero seu olhar
apaixonado 
sobre o meu
idem

Paixão.

Nem  precisa ser amor
Amor se der
Vem depois
Se não der

Deixa pra depois


Ps. Meu irmão musicou meu poema *-*


domingo, 28 de julho de 2013

Texto pra Virar Estrela

     Nunca liguei muito pra roupas. Sempre ganhei muitas e ia recombinando as que eu já tinha. Ontem escolhi pra sair uma blusa que a tempos eu não usava. Ela é preta tem as mangas compridas verdes e um decote bem bonito. Qual não foi minha surpresa a perceber a porção de memórias que essa blusa trás consigo, primeiro lembrei que tenho ela desde os 15 anos, quase 7 anos. Ou seja, tempo pra caralho.
    Daí me veio imediatamente a memória de você dizendo como eu ficava bonita com essa blusa, porque meus peitos ficavam grandes, rs. E imediatamente como essa lembrança, me vieram outras tantas dos nossos remotos tempos adolescentes. As intermináveis noitadas regadas de vinho ruim e cachaça com suco de laranja. Os malabarismos que fazíamos pra ter grana no fim de semana, e grana pra nós, era 5 conto no bolso e dois passes de ônibus. E impressionantemente, conseguíamos voltar bêbadas e com troco pra casa. Rs.  As descobertas, de tudo, do corpo, do caráter, do coração, da vida, dos planos....
Os dramas, sempre muito pesados, e muito urgentes. Os amores sempre eternos. As borboletas no estômago as amizades que se renovavam a cada bater de cabeça. As primeiras ressacas, primeiros beijos, primeiros pircings. Primeiras ressacas morais, primeiras beijos G. , primeiras falsificações de assinatura.
A certeza de que aquilo seria pra sempre, e de que éramos melhores do que todo resto do mundo. Arrogância?? Sem dúvida. Mas teríamos tempo pra nos dar conta disso.
       Os choros, as histórias e os bordões. Ah! Os bordões! “Nós somos uma só” “O mundo é um morango, cândido e cintilante” “ vira uma estrela” “ O importante é Deus no coração, o brilho labial e a bicicleta azul”.E vários outros que tínhamos como marca registrada e se espalhavam entre os nossos como praga.  Os nossos escritos, paródias, textos pra teatro (nossas cabeças funcionavam muito bem juntas!) e tantas outras memórias.
       Isso não é um texto de lamentação. Gosto muito da minha vida atual, e provavelmente ela me renderá textos como esse daqui à uns 7 anos. Mas como não lembrar de tanta coisa sem que os olhos brilhem?
       Muita coisa mudou desde então, inclusive não preciso que nenhuma blusa me diga que meus peitos são grandes. Mas essa blusa verde e preta, sempre me fará lembrar da gente. Com a certeza de que não preciso de muito pra ser feliz.

*Dedicado a uma grande amiga

sábado, 13 de julho de 2013

Tempos de Guerra

São tempos de guerra.

Por fora e por dentro
Por fora a revolução
O desejo de mudar o mundo
A esperança
A vontade de gritar até a garganta doer

Não nos submeteremos

Somos maiores
Somos mais fortes
Somos um só

Por fora as balas de borracha
A truculência
Os jogos de poder
A ignorância
A tv.

São tempos de socos no estômago
Algumas vezes por dia
Diante da barbárie
Que por tanto tempo  abstraímos
Por conforto, confesso.

Tempos de guerras diversas

Guerras internas
De consciência
De sentimentos
De confusão

Guerras dentro de nós
Que não entendemos nada de sentimento
Só sabemos que sentimos
E sentimos muito.

São tempos de guerra

    
De socos e vespas no estômago.

Escolhas

Como posso dizer amar alguém?
Se há um milhão de "alguéns" por ai
Todos com suas pequenas particularidades
Não conheço a todos
Nem a metade
Ou metade da metade da metade
Como posso dizer amar alguém?
A conclusão que chego, é que a gente realmente escolhe
Se é aquele, ou aquela ali
Quem vai tomar nossos pensamentos
Nos minutos antes do sono vir
Só não sei bem
Embasado em quê,
Se em Cálculos e planilhas
Mapa astral ou ascendente
O fato é,
Você escolhe
E quantas vezes, burramente?
Ora
Analise as estatísticas
As probabilidades
As pendências!
Uma boa reflexão
Pra um amor perfeito.
....
....
....
Ah, quanta ilusão
Achar que controla

O que vai te apertar o peito.

Corda Bamba


Coisas opostas sempre me atraem.
E me atraem muito!

De maneira irresistível

A queda e o voo
O sono profundo
E o trabalho coninuo
O ódio e o amor

É como andar na corda bamba
Sempre entre extremos
Perigosamente opostos

Nada de pasmaceira
De meio-termo
De água morna

Ou é ou não é

Mas como saber se é ou não é?

Ah que cilada da vida
Me fazer libriana
Confusa querendo ser decidida!

Ah quem diga que é o signo do equilíbrio
Mas é uma grande mentira
É na verdade o signo que busca
Um equilíbrio que nunca chega

Como me disseram certa vez
É andar na corda bamba de salto alto.
É lindo pra quem vê
Mas não existe a queda sem quebrar a cara

E o salto

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Credibilidade.
Lembra-se desta palavra?
Fui duramente censurada ao mencionar
A ausência dela quando se trata de você.
Voltamos nela novamente
Como temos voltado em tantas outras coisas
Nosso ciclo infinito
De culpas, desculpas,
Promessas e pesares.
Mas esse ciclo precisava acabar
Para que possamos ver outros horizontes
Outros motivos
Outros olhos
Cansei de enjoos estomacais matinais
Cansei de perseguições internas que não me deixam dormir
Deito hoje a cabeça no travesseiro
Em paz
Dei um basta
 Nas certezas
Que só duram uma semana.



sábado, 1 de junho de 2013

Arrancar do Coração


Eu costumava não me importar.
Sempre foi assim

Arrancava do meu álbum
 Da minha vida
Agenda
 E coração

De forma rápida, prática
E quase sem dor
Não me restavam marcas,
E arrisco dizer,
Nem mesmo memórias.

Alguns minutos apenas
Eram mais que suficientes
Pra arrancar as páginas escritas
E começar as novas
Com vigor e empolgação
Frescor e magia

Mas de uns tempos pra cá
Não sei se é a idade
O caráter
Ou coração,
Tem sido um pouco mais penoso.

Talvez essas tais folhas
Não tenham sido arrancadas
Como antes eu pensava
E sim apagadas
Junto com cada história finda

E o papel  já não responde a borracha
Com a mesma aderência
As vezes chega mesmo a rasgar
A folha,
Ou o coração.

E ficam essas marcas
Doloridas
Dolorosas.
Por dias,
Meses ou anos

As páginas vão ficando bagunçadas
E nem eu consigo entender
Meus escritos e anotações
Meus sentimentos.

São fotografias velhas
Escritos dedicados,
A ele, ou ela
Que estão bem ali
No passado

Está tudo cheio
Confuso e pesado
E ainda assim
Não tenho mais coragem
De tirar do álbum
Da agenda
E nem do coração.

E mesmo tirar da vida
Tem sido um custo

Eu nunca sei, se funcionou ou não.

terça-feira, 28 de maio de 2013


Verbo

Eu julgo
Tu julgas
Ele julga

O mundo gira
Com seus milhões de julgamentos

Os corretos e os incoerentes
Você segue
Remoendo

Condenando cada um que não faz jus
Ao seu ideal de princípios
Moral
E bons costumes.

Ele julga
Nós julgamos
Vós julgais

O mundo gira
Troca tudo de lugar
Te da um pouco do seu próprio veneno

Te mostra o quanto imoral
São eles
E também vós

Você julga
A gente julga
Todos julgam

A vida te põe no lugar do outro
Mostra as dores do outro

Pede piedade
No seu constante julgamento

Parece pegadinha
Estamos sempre trocando de lugar

Mas nós não percebemos
Que não sabemos julgar
E mal sabemos conjugar verbo

sexta-feira, 24 de maio de 2013


Esse Desatino Chamado Ausência

Conter suas lagrimas
Dizer que tudo passou
Não existem magoas.

Lembranças.
Barreiras invisíveis.
Reais

Já passou.
Não dói mais.
Nenhuma célula.

Amnesiar a dor

Reestruturar o templo da confiança
Passar a borracha
Recomeçar
Entrar na nossa máquina do tempo

Voltar

Pro tempo em que a gente se entendia
Se ouvia
Se queria
Com tudo e apesar de tudo

Mas é esse universo imenso de lembrança
Receio,
E mesmo vingança

É confuso,
Complexo
Sentimentos sempre são.

Mas também é simples
A verdade é que sua ausência se fez presente por tanto tempo
Que me acostumei.

domingo, 19 de maio de 2013


Júlia



Júlia sempre teve amores platônicos. Aos 7 anos, foi um primo mais velho, que colava em seus cadernos de escola, adesivos do homem aranha. Júlia achava isso tão legal e juvenil, que passava horas pensando no primo, desenhando pequenas teias de aranha em tudo que era canto.
Aos 10 anos era um cantor de música romântica, enquanto ouvia cada verso, tinha a certeza que o dia que ele a conhecesse os dois se casariam e seria felizes para sempre. Aos 15 um professor de educação física. Aos 16 um vizinho que nem sabia de sua existência. Aos 17 um que pegava o mesmo ônibus que ela em toda segunda quinta feira do mês. Aos 18 seu primeiro chefe. Aos 19 seu médico.
Vivia intensa e platonicamente suas paixões, as pessoas criticavam mas ela sabia no fundo que nenhum desses romances iam dar em nada.  Jamais se declarou. Jamais trocou muitas palavras com qualquer um deles. Mas era feliz assim, vivia vida de sonhadora, não precisava procurar por ninguém, tinha sempre alguém em quem pensar, e sofria pouco, apenas aquele sofrimentozinho platônico que nossas paixões platônicas provocam.
Até que um dia, Júlia conheceu Eduardo, sentava ao seu lado na faculdade. Não era cantor, poeta, professor, não pode nem mesmo ser considerado bonito. Mas tinha um jeito engraçado de arrumar os óculos, um insistente não saber o que fazer com as mão, e uma gentileza com todos que faziam com que ela se derretesse. E era engraçado, fazia Júlia rir, como ela nunca ria, e o principal, gostava dela, queria sair com ela, namorar com ela, casar com ela!
Júlia, que até então, só tinha vivido seus amores platônicos, não sabia o que fazer com esse gostar de quem se pode ter. Se por um lado encantava o sorriso de Eduardo, cada detalhe impar, cada cheiro, tão particular, tão dele... Por outro se apavorava, não sabia o que fazer, ela que sempre amou distante, tinha agora tanto amor ali, na carteira ao lado.
Júlia queria, ficar com Eduardo, queria mesmo. Mas abandonar o conforto de suas paixões platônicas e inofensivas, se por a prova de um relacionamento de verdade, era muito desafiador.
 Sei que todos esperam, um final romântico e talvez uma lição, mas diferente das novelas, e dos filmes, sempre tão felizes e previsíveis, infelizmente com ela foi diferente, não suportou a pressão. Primeiro trancou a matrícula, depois transferiu a faculdade. Continuou sua vida platônica, e como é de se imaginar, não protagonizou nenhuma história de amor.

quarta-feira, 8 de maio de 2013


Maria

Maria sempre gostou de bonecas. Tinha várias delas, do todos os tamanhos e cores. Quando indagada sobre que presente gostaria de ganhar respondia sem pensar: Boneca! Boneca sempre! Aos 4 tinha 8. Aos 7, 23, aos 12 48. Penteava todas com zelo e cuidado que só uma menina delicada como ela, faria. Ajustava-lhes cuidadosamente cada vestido, trançava-lhes os enormes cabelos de boneca. Enfileirava por ordem de tamanho, de idade de beleza ou de “gostamento”.Não havia, tio, vizinha, prima ou conhecida que não se encantasse diante de sua coleção. “Um primor” diziam. “uma riqueza” “que menina cuidadosa” “Uma verdadeira princesa”.
Maria cresceu, guardou com cuidado as bonecas, em uma caixa lacrada, com muito anti-mofo. E seguiu sua vida, entre batons, festas, e escola. Entre os amigos os sapatos e os namoros, ela percebeu que não se cansava de bonecas, Júlias, Amandas e Jéssicas. Continuava colecionando bonecas. De diferente tamanho, cujas brincadeiras eram outras.
Sua mãe quando soube fez um escândalo! O pai desmaiou. A avó não acreditou. Afinal, a menina nunca dera sinais. Os vizinhos faziam fofoca, quem  poderia imaginar, que menina tão menina, não gostasse de.....Shhhh! Todos pensavam, mas falar era proibido! Olhavam-na com estranho pesar,  “mas é tão feminina” diziam uns. “Tão delicada” diziam outros.
Maria se via triste por que não entendia tamanha decepção. Pensava por horas, em mudar de opção, orientação. Ou tirar o vestido e aposentar o batom. Mas por fim resolveu agir da forma que se sentisse melhor, e que quem se incomodasse que desse um jeito de desincomodar. E foi viver sua vida de boneca, do jeito que lhe desse na telha.

Menina

Fica bem menina
Pensa no que vai falar

Atina

Mas não maltrata mais
Esse coração
Cansado de sofrer
Calejado de ilusão

Superando ainda
As últimas pancadas da vida
Embriagando-se a cada dia
 De vodca e de tequila

Esse coração choroso
Curtindo fossa e mpb
Comédias românticas, novela das seis

Coração doente, constipado
De cama

Precisando de um carinho, um chamego
Precisando de cuidado

Ora
Mas não estranhe
Se de perto não parecer tão mal assim

É que esse coração é artista
Atua,
Canta,
Encanta

E tudo isso pode ser verdade
Mas pode ser também
Só mais um dos seus dramas

Sabe como é
Coração com esse jeitinho
Mineiro de ser
Tão quietinho, menina
Mas só chama por você

domingo, 5 de maio de 2013


Não gosto de rimas.


Elas sempre me irritaram
E no entanto, em tudo que escrevo
Em tudo que falo
Estas se fazem presentes

Tal como fossem convidadas
Me afrontam
Petulantes que são
Procuro no dicionário expressões equivalentes

Troco tudo
Inverto palavras
Versos
Repentes

Mas quando releio
As belas estão ali presente
Fico raivosa
Apago cada palavra

Vigorosa

Mas os sinais continuam ali
Tão nítidos quanto fotografias velhas

Que também não gosto de ver.
Coloco na caixa lacrada
Na prateleira mais alta
Não quero lembrar.
Esqueço.

Esqueço tanto
Que volto a olhar
Aquela velha caixa
Sem saber o que vou encontrar

E deparo com elas
As doídas memórias
De outrora
Épocas boas
Que não podem ser mais
Se não apenas lembranças
E por isso dói tanto
Tudo se explica.

Consigo escapar das rimas
Vez ou outra
Assim como de algumas memórias
Mas elas sempre voltam
As rimas
E as velhas histórias.

sábado, 4 de maio de 2013

Sensorial 

Desmanchar-me em ti
Te sorver e sugar

S
entir
S
entir-me em ti
D
ividi-me contigo
C
ompleta

T
ransbordar
E
scorrer pelos dedos
P
elos olhos
P
elos poros
E
scorrer-te nos meus dedos
M
isturar essências
S
abores, cadências
E
xtasiar a troca
F
undir a alma

C
orpos iguais e tão distintos

D
esenhamos com os corpos
B
rincamos com as sombras
imagens inimagináveis

D
esmanchar-me em ti
Q
uente, quieta, sonolenta

R
elembrando cada verso
D
o poema escrito por nós

Heloisa Mandareli