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quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Domingos Republicanos


Cenário: domingo a noite. A casa estava suja e fedia. E nós, estávamos com a cara de derrota de quem bebeu pra caralho na noite anterior, passou o domingo se sentindo uma ameba, e agora, começa a refletir sobre a existência. Os três. Ressacados, embrulhados e se perguntando o porquê disso. Sentamos na varanda, cada um ascende seu cigarro, eles fumam de palha, eu de filtro, a fumaça sobe e dá um pouco de alívio no peso da cabeça. Buscamos um assunto, mas claro, não dá pra fugir da noite anterior. Legais que somos, cada um se ocupa de lembrar do outro das maiores merdas feitas. E ai começa aquela espécie de disputa.
-Cara, você tava muito louco!  Subiu no palco pulou na galera!
-É eu tava louco mesmo, mas e você? Que sumiu por duas horas, ficamos te procurando feito doidos! Onde você estava? Mandando mensagens pra todas as suas ex da história. Olha aí o seu celular!
Todos riem, faz-se silêncio.
-Cara eu também tava muito ruim. Parei num grupo de gente que eu nem conheço e comecei a falar de política! Não sei que rumo a conversa tomou, que eu comecei a chorar, o grupo era de psicologia, ficaram me analisando e falando da minha família.
-Pô, que bad.
-Só.
-Você vomitou no show...
-É, eu sei. Que bad.
-Só.
-Eu também liguei pra ex.
-Sério? Que bad.
-Só
-Eu também liguei pra minha. Bad total mano, só.
Novo silêncio. Nós três havíamos terminado um namoro recentemente. E, por isso, mas não só por isso, estávamos a nos embriagar nas noites de sábado, e a morrer de ressaca, nos dias de domingo.
-E você acha que não tem volta?
-Acho que não cara. A gente briga demais. Ela não aceita meu jeito, eu não aceito o dela, é foda.
-Que bad.
-E você, acha que tem volta?
-To de boa mano. To formando, vou dar linha nessa cidade. Mulher tem muitas aí no mundo.
-Só
-Nós conversamos hoje, talvez a gente volte. Mas não sei.
Novo silêncio. Apesar disso posso apostar que o pensamento foi em comum. As nossas noites de fazer merda eram as melhores. Um de nós debandar do “clube dos solteiros” (ou clube dos largados) faria muita diferença no time. Terminamos o cigarro em silêncio.
-Vou fazer um café.
-Não cara, pega uma cerveja.
-Sério? Cerveja?
-Cerveja.
-Cerveja.
-Cerveja. Só.

Brindamos a ressaca de domingo com mais uma gelada. A gente queria se abraçar, mas não o fizemos. Certas coisas ficam melhor se subentendidas.

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