Diz, minha pele quer te ouvir.
Carrego comigo cada silaba tua.
Eu nunca vou perder a Memória da tua voz.
Acabou.
Lasciva, abri nosso diário membro a membro beijo a beijo letra a letra.
E me pus nua para outros, vários
Ofereci tua delicadeza
Rompi o silêncio por debaixo das vestes
Como se me lançasse numa suruba de cegos
Eles percorriam em êxtase nossas palavras
E entendiam nossas trocas em casa parte minha
Reconheceram o amor por suas pegadas e diziam,:
“Por aqui passaram amantes”
Marcando a ferro sua jornada
Beijavam meu corpo com os dedos
Dedos rápidos como o prazer que engoliam
Como se devorassem nós duas pelo tato
Um exército de cegos me penetrando com seus dedos
Me fizeram gozar tremer desmaiar
Línguas ásperas e mornas, me lendo com gula
Rasgaram nossa pele, machucando rimas
E borrando a caligrafia estudada de nossas horas
Ardiam metáforas de sangue a cada corte
Sofri minhas lágrimas e as tuas, enquanto
Embriagava-me em cada gozo
(pausa)
Perdão,
Mas... Quando o outro leu você no meu corpo... Eu te amei tanto...
Acabou.
Você não tem lembrança alguma gravada na tua pele,
Você se lava e fica limpa. E fica outra.
Eu me lavo e deságuo sempre em mim mesma.
Sempre.
Eu me lavo pra dentro do mesmo cheiro.
Eu me armazeno.
Vocação para gaveta, álbum, arquivo.
Eu fico pra testemunho.
Acabou.
2 de março de 2003
Você se lembra?
Que o tempo seja nosso cúmplice.
Na raiz.
Paz.
Acabou.
A carne mais preciosa está sobre o coração.
"A cicatriz é a flor."
Acabou.