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terça-feira, 25 de agosto de 2015

Tinham acabado de ter um maravilhoso sexo matinal. Alice ainda estava nua, com as pernas cobertas por um lençol, tragava um cigarro, bebericava uns goles do café recém passado e olhava pro nada. A namorada que olhava já há algum tempo, disse:

-Acho que você não faz ideia do quanto é sexy.

Nunca soubera lidar com elogios. Sempre acabava respondendo-os instintivamente com uma piada. Virou depressa e fitou-a nos olhos em silêncio por alguns segundos, como quem procura sinais de sinceridade ou de deboche. Decidiu que ela falava a verdade. Deu um sorriso tímido e respondeu

-É, acho que não sei.


Se beijaram.
Fizeram amor pelo resto da tarde.
E depois, pelo resto do ano. 

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Procura-se a Poesia


Diante da folha branca
Peno.
Sinto,
Mas não rimo.
Rabisco, apago, amasso
Do papel, já foi um maço.
(E se fosse folha de outra cor?)
Arrisco-me no teclado do computador.
Nada.
ELA
Está aqui em algum lugar que eu sei.
Onde mais estaria?
Brinca de esconder
Brincadeira sem graça eu diria.
Mas eu ainda te acho.
E te racho e desabrocho-te.
E te imprimo e exponho na rede.
E pra não ter risco,
Te decoro e declamo mil vezes.
H.M

sábado, 11 de abril de 2015

Agridoce

Escrever é despir-se.
Expor-se em praça central
Diante de uma lupa
Nua.
Corpo virado do avesso
Agonizante em suas palavras derradeiras
Obsceno e ruborizado.
Se coloca nas entrelinhas
Vira estrofe.
Verso,
Paragrafo.
Eu lírico na terceira pessoa.
Rima nenhuma
Ou Palavra costurada
Brota ao acaso,
Atravessa o grafite
(ou outro instrumento de tortura)
Antes de carimbar o interior das veias.
E libertar as palavras interiores não é uma opção,
É um ato de desespero.
Epilético
Inevitável
inadiável.
Escrever Dói,
Sangra.
Mas, só quem já praticou
Tamanho ato exibicionista
De deixar-se, tocar e sentir
Através das Sentenças de si,
Sabe que ao paladar,
Se faz agridoce.

sábado, 7 de fevereiro de 2015

22 e 23

Um vinho
Um trago
Um beijo

22 e 23
Horas,
Idades.

Um cheiro [na nuca]
Um trago [na vela]
Um carinho [entre as pernas]

23 e 22
Horas e idade

A hora passa lenta
A idade não corre,
Voa.
Língua na tua boca

Pão sem queijo
Três goles
E trago três.

Mão nas mãos
Rosto a rosto
Coxas entrelaçadas

Meia noite
Novo brinde

As memórias que costuramos soltas

Dessa hora que não teremos de volta

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Ela já foi sozinha e não é mais.
Encontrou nos seus laços
Motivos pra se cobrir de abraços
Encontrou no seu lar, um motivo a mais pra voltar
Ficar mais um dia
Ou o ano inteiro.
Ela já não vê sentido em caminhar de mãos balançando
Muito mais bonito,
É dançar de mão dadas.
Ela já não deseja mais se espalhar na cama.
Encontrou no seu corpo
Conforto pra se aconchegar.
E nos seus sons, motivo pra pausar a música.
E no seu brilho, uma vontade enorme de viver a luz de velas.
Ela já foi sozinha,
Mas encontrou no seu colo um lugar pra ficar
Aninhar
Demorar
Morar
E na lacuna da sentença esquecida

Escreveu o verbo amar