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segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Tempo

Se o tempo todo fosse tempo meu
Eu pegava o tempo e transformava em tempo teu

Aumentava o tempo
Juntava o meu tempo e o tempo teu
Fazia o tempo virar tempo meu e teu

Dilatava o tempo todo meu
Como que dilata o corpo teu
Dilatava todos dedos meus
Nos cachos teus

Fazia do tempo
Tempo pequeno

Até que o tempo
E tudo mais que é teu
Costurasse os tempos todos

Em meu e teu

Heloisa Mandareli e Júlia Pires
Abre a janela
Abre os olhos
Abre um sorriso
Me deixe ver se tem sol
Me deixe ver se é de chuva
Teu sorriso molhado
Abre os olhos,
Abre a janela
Me deixa olhar o dia
Me deixa te olhar por dentro
Contar a constelação por detrás
Das órbitas castanhas do seu rosto
Me deixa te ler
Olhar você.
Quero saber se seu olhar sorri.
Me deixa beijar esse teu sorriso.
Sopra ele em mim?
No meu ouvido
Me dá uma parte dele
Me diz
-ainda que for mentira-
Que parte dele
É uma parte de mim.
Carimba seu sorriso na minha boca.
Na minha vida
Por debaixo da roupa.
Abre as janelas pra mim
E faz da janela
Tua vida inteira.
Se abre pra mim
E Faz de mim sua.
Amante,
Companheira.
H.M

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Ontem eu chorei você.
Não tinham ainda muitas horas inteiras,
Eu tinha te absorvido e te transpirado

Mas ontem a noite, sozinha
Eu chorei você.

Qual não foi minha surpresa ao notar tua presença
Em cada gota salgada d’água
E te sentir escorrer pela face

Lenta e doce.
Quase como um carinho
E te sentir se acumular no canto da boca
Como quem se demora por ter coisas demais pra observar ali

Ontem eu chorei você a noite toda.
Pode parecer exagero
Mas acredito que tenha chorado litros de você.

Qual não foi minha surpresa
Ao entender que estás tão em mim
E és tão minha,
E me faz tão sua,
Que pode se materializar em mim
De forma viva
Tocável
Urgente
E tão íntima...

Ontem, enquanto você dormia,
Você nem sabia
Mas estava em mim
Molhando meu rosto,
Meu sono
Meu peito.


Ontem eu chorei você

Heloisa Mandareli

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Falou-se tanto das duas,
Ao saberem que eram mais que amigas

A mãe chorou
A vó praguejou
O pai quis bater
O irmão xingou

Foram acusadas
De tantas coisas
Feias
E sujas

Os otimistas diziam:
É fase

Os religiosos:
É doença!

As vizinhas fofoqueiras:
É sem-vergonhice

Diante de tanta raiva
Tanta revolta
Difícil entender
E até mesmo acreditar
Que no fim das contas
Eles falavam
Não era de crime
Ou de má criação
Não era ruindade
Ou falta de coração

A confusão toda  
 Era sobre amor

Amor do qual
 Não entendiam
  E nem poderiam.

Já tinham se fechado a muito tempo
Nas prisões das regras dos sentimentos.

Como é triste passar a vida

Dentro das caixas do preconceito

Heloisa Mandareli

Urgência

Vem comigo?
Vamos fugir agora?
Eu não aguento mais
Aceitar que tudo tem sua hora
Queria engolir o mundo
E toda arte que nele habita
E tudo de belo que ele oferece
Queria resolver tudo
Acabar com as questões
Desvendar os problemas
Acabar com os senões
Eu sei que é difícil entender
É que eu tenho uma doença rara
Que me mata tanto quanto
Me faz sobreviver
Eu não caibo nesse mundo
Eu nem caibo mais em mim
Eu sofro de urgência
Um caso raro
De urgência profunda
Tenho fome de ser tudo
Tenho ânsias de ser inteira
Minha pressa é de ser feliz
E hoje ainda é segunda-feira.

Heloisa Mandareli

Roberta 2 de fevereiro de 2007


Eis meu desabafo: eu nunca consegui terminar nada. Desde criança, não terminava meus desenhos, ou de colorir meus livros, ou de montar meus quebra cabeças. Sei lá... devo ter vindo com defeito sabe? Minha mãe que sempre me dizia: essa menina nunca termina nada que começa! E ria... Ah! Mãe é sempre linda né? Ri de tudo que a gente faz. Mas a verdade, é que assim como todo mundo ela achou que isso iria passar, mas sabe como é, o que passou na verdade, foi o tempo. Mas esse meu jeito de nunca terminar nada, ficou pra sempre comigo. E até hoje. Nunca terminei um curso por exemplo. Já iniciei 7 cursos técnicos e quatro faculdades! Em das delas fui até o ultimo ano. Mas não sei... Me dava uma agonia sabe? Uma angustia de ver o fim.... E eu sempre abandonei tudo. Sumia! Mudava de endereço e até de nome. Nenhum namorado meu, soube da minha boca  por exemplo que o namoro acabou e por que acabou, aliás, se for pensar bem, acabar mesmo nenhum acabou. Eu ia sumindo...sumindo...sumindo até que puf! Desaparecia da vida da pessoa. Na verdade, eu tenho uns pares de desafeto por conta disso.
      Mas eu também sempre achei que ia mudar sabe? Aos doze, achava que com quinze seria diferente, com 15 achava que aos 18, com dezoito achava que com 21...enfim. Sei que o tempo foi passando, passando e passando e eu estou aqui. 33 anos e nunca terminei nada. As vezes fico pensando que as coisas inacabadas  da minha vida, aquela poesia, aquele curso de corte e costura, aquela reforma, aquele amor de carnaval, aquela garrafa de vodka, aquele cigarro ali no cinzeiro, estão flutuando em cima de mim. As vezes quando eu me deito, consigo até enxergar.Cada resto de sonho inacabado, pendurado no teto na minha vida, no teto da minha casa. Pesa. Eu tinha vontade é de poder voltar no tempo e terminar as coisas, ou então, não ter nem começado. Aliás, não faz sentido que uma pessoa que odeie tanto o fim comece tanta coisa certo? Pois é, cheguei nessa conclusão de uns anos pra cá. E parei de começar. Evito os fins, porque neles, sempre tem algo ou alguém querendo te machucar.
      Vocês já repararam na fragilidade das relações humanas? Se relacionar é como sapatear num piso de espuma, com a exceção de que o piso de espuma não te machuca quando você cai. Quantas relações vocês acharam que duraria pra sempre? Amizades, namoros, lembranças, sentimentos? Na verdade eu evitava o fim pra tentar deixar tudo eterno. Deu certo por um tempo, mas depois eu vi que tinha criado fantasmas... E agora eles estão comigo o tempo todo. Eu parei de começar qualquer coisa. Parei de sair de casa. Desajustei os relógios pra não começar os dias. Rasguei calendários. Não queria começar semanas, meses ou anos. Quebrei meu telefone. Não queria começar conversas.apaguei a luz e fiquei ali... quietinha. A comida acabou. A luz foi cortada. As pessoas me esqueceram. E eu fui ficando cada vez mais





Carta encontrada na casa de Roberta, em janeiro de 2014, junto ao corpo da garota, que segundo peritos estava ali a seis dias. Juntamente com meias xicaras de chá, meio cigarros no cinzeiro, meias garrafas de bebida alcoólica e meia caixa de um forte remédio. A carta não foi terminada, infelizmente não podemos dizer o mesmo sobre sua vida. Contudo, tinha um semblante satisfeito e um quase sorriso. Parecia feliz. Arrisco a dizer, que suicidou-se por um sonho de vida(ironicamente) Um tanto mórbido, é verdade. Mas pelo menos em seus últimos minutos de vida, Roberta saberia, que pelo menos uma coisa, ela haveria de terminar.

Heloisa Mandareli

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Simples


Minha paz é de vidro
Meu santo é forte
E meu coração é puro.
Meu sangue é quente
A carne fraca
O caráter, um muro.
Deito tranquila no travesseiro
De consciência limpa
E alma leve
De tudo que me falta
Três coisas eu não careço
Amor, humor e amanhecer
Certas simplicidades
Não tem preço

Heloisa Mandareli

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Surto

Todo mundo surta.
Surta de raiva
Surta de fome
Surta de febre

Surta porque a hora não passa
Surta porque já passou da hora
Surta casando
Surta solteiro

De dor
De amor
De dinheiro

Surtam os pobres
Surtam os ricos
Os saudáveis
Os doentes

Homens
Mulheres
Crianças

O surto é humano
Não segrega
Não tem preconceito.

Asseguro o direito de surtar
A todo aquele

Que carregar um coração no peito

Heloisa Mandareli

Amor Careta e Louco

Eu quero um amor
Fora da rotina

Que não tenha hora pra chegar
Ou limite de bebida

Um romance sem pudor
Sem amarras
Sem vergonha

Quero que a gente perca o juízo
Que saia sem hora pra voltar
Que se misturem sextas com sábados e domingos

Que a gente saia sem dinheiro
Sem destino,
Sem paradeiro

Quero um amor louco.
Loucuras de amor
Endoidecer pra sempre
E de vez.

Mas de vez enquando,
Talvez de terça a sexta,
Tudo que eu quero
É amor careta

Antigo
Ultrapassado.
Se possível,
Um amor Quadrado.

Quero flores de aniversário
E comédias românticas no domingo
E cafés nos fins de tarde
E letras de musicas melosas

Quero bilhetinhos de bom dia
E danças coladas na sexta a noite
Quero ser o casal chiclete
E dormir colado a noite toda
E fazer planos de futuro.

Talvez bem lá no fundo
Seja só o que a gente queira
Um amor careta e louco

De domingo a sexta-feira

Heloisa Mandareli

Sossego

Ecoa a pergunta
Sobre o que de tão errado
Nós fizemos

Pra ter nossa calma perseguida com tanto afinco
Com tanto engenho.

Se só o que queremos,
É o sonho e o sossego

Sem que se mude em nada
A vida de quem quer que seja.

Será que pedir paz
É afinal,

Pedir demais?

Heloisa Mandareli

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

As Mentiras Que Somos Nós

Doía-lhe a garganta
E chá nenhum resolvia
Métodos alternativos
Ou Amoxilina

Eram as mentiras que a corroíam
Queimavam feito ácido
Todo tempo
O tempo todo

Mas como se livrar
De tanta mentira impregnada
Na pele
No âmago
E na vida inteira?

Como jogar fora
Mentiras tão repetidas
Já mescladas com a verdade?

Como se lavar das mentiras
sem perder metade de si?

Ser  verdade,
Pode ser mais difícil do que parece.

Mas a mentira cresce
Feito bola de fogo
Dentro de quem sente

Uma hora
Ela sai feito grito
Feito sangue
Feito doença

E espalha
A verdade que é doída
E de tão sufocada
Virou ferida
Ferida aberta
Cáustica e pungente.

Parecia libertador
Parecia ser fim e início.
De um novo ciclo
Autônomo e independente

Mas a verdade foi ignorada
Em silêncio, resguardada.

A mentira foi polida
Repintada
Recosturada no  lugar.
A estabilidade, restabelecida.

A verdade é mesmo

Uma verdade inconveniente.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Alcance

O tempo hoje correu arrastado
Lento
Pingando
Apertando
Mastigando as horas

Hoje o dia doeu
Mais do que dói de costume.

Não alcancei teus ruídos
Não consegui ler teus contidos sinais
Não pude interpretar teus versos

Não consegui desvendar teus olhos opacos
Ou contar tuas lagrimas
Ou conter teu choro

Não soube ter você
Ou ser tua

Não segurei firme o bastante
Não pude entrar no teu outro tempo
Teu outro espaço

Fiquei aqui fora
Virei vulto.
Você, sombra.

Eu relógio
Você atraso
Eu espera, desespero
Você ausência, apatia

Você silêncio
Eu gritos contidos

Eu deduções
Você silêncio

Você silêncio
Eu interrogações
Você silêncio

Você silêncio
Eu solidão

Você silêncio
E solidão.


quarta-feira, 23 de julho de 2014

Gosto de dias claros
Dias frios
Com raios tímidos de sol 
Entrando pela fresta da janela

Gosto de fins de tarde coloridos
Preguiçosos 
Aconchegantes.

Gosto de noites quentes
Sem destino
e sem hora

Madrugadas sem sono
Sem chão
E sem limites

Mas meus duas preferidos

Dias e madrugadas
Que não tem chuva que atrapalhe
Ou frio
e nada

São os dias que eu mais gosto
São dias em que eu acordo com a certeza
Que melhor lugar do mundo
E a melhor parte da minha felicidade
Cabem dentro do seu abraço

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Um muro.
Uma muralha.
Que separa mandante e mandado

Um muro frio
Tal como uma parede tem que ser

Dura
Rígida
Intransponível

Não parece ter pichações
Ou buracos

Parece ter sido pintado recentemente
Não tem sinais do tempo
Ou marcas do que passou

É gelado,
Grande,
Soberano,
Quase sério,
Quase bonito.

Quando olhamos bem,
Damos conta

Trata-se de
Um muro de arrogância.

Pintado porém,
Com simpáticas cores de humildade

Desculpa,
Mas não convence
Enxergamos de longe suas rachaduras.


sexta-feira, 27 de junho de 2014

Felicidade


Que a felicidade seja mansa.
Que chegue de leve
Pequenina

Que entre sem bater
Flutuando devagar

Que te tome inteiro nos braços
Te aninhe com seu cheiro de bem estar
Com seu sopro de estar bem

Se for pra te acordar,
Que te acorde num carinho

Se for pra te ninar
Que te nine com um cafuné

E se for pra te acompanhar
Que te leve de mãos dadas

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Borboleta



Volta pro casulo borboleta.
Que aqui fora o vento é frio demais!

A ventania vai te levar embora
Vai te bagunçar as asas
Te entortar as antenas.

Volta pro casulo que lá é mais seguro.
É mais quente e confortável

Eu sei que vc quer conhecer outros lugares,
E outras borboletas

Mas ouça o que eu digo: não vale a pena
O mundo é cruel, e as borboletas são más.

Não deixe que te magoem!
Não deixe que te corrompam!

É tão delicada e inocente
Permanece assim!
Fica no casulo eternamente!

Eu não quero te amedrontar,
Ou te fazer sofrer
Mas é que dia e noite, 
Eu só penso em te proteger

E eu jamais seria capaz,
De te enjaular ou te prender
De tirar a força tua liberdade

Contudo, faço um apelo,
Pra te convencer:
Pousa aqui, e permanece!
É melhor que qualquer coisas
Que o mundo queira te oferecer.


É borboleta, eu sei...
 

Eu sei que nada que eu fale, vai adiantar
Borboleta que é borboleta,
Quer saber mesmo é de voar.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Sobre Fim.

Quinta-feira. O sol se pondo. O coração agoniado. Sempre tiveram brigas, gritos e até xingo. Mas aquela ultima briga, algo parecia diferente, notou frieza em seus olhos. Notou cansaço. Notou outros planos, já não em comum, planos dispersos, embaralhados: planos de outras cores. Ainda assim, esperou. Um dia. Dois dias. Uma semana. Uma semana e meia desde a briga. Nenhum telefonema, nem mensagem, ou e-mail, . Nenhum sinal de vida, nada.  Até aquela hora, 18:47, ela bate na porta.

-Entra.
Fica um pouco.
Senta.
Quer uma água?
Um café?
Tá tudo bem contigo?
Não pega as coisas não! Vamos conversar!
Eu não faço aquilo de novo!
Eu juro!
Não brigo contigo mais.
Nunca mais.
Faço o que você quiser!
Fica!
Por favor, fica!
A nossa foto....
Deixa aí!
Não, não rasga!
Por favor!
Fala comigo!
Ou me ouve!
A gente pode resolver isso....
Eu te amo.
Quero que você fiquei!
Não sai, por favor....
Olha pra mim!
Me diz adeus!
Um ultimo beijo!
Não!
Por favor!
Eu imploro!
Fica!
Fica...
Volta!
Volta...
Adeus.

As ultimas cinco palavras, saíram soluçadas, embargadas. Rasgadas. E o que seguiu-se dali foram quantas lágrimas ousassem sair dos seus pequenos olhos. Até a pele corar. Até o abdome doer, até o corpo cansar, e adormecer.
Seguiu por dias esse tormento, tentando encontrar razões pra viver. Ela, uma guri tão alegre, agora vagava cabisbaixa, distraída, como se lhe faltasse um membro, ou esperasse respostas da vida.
Alguns dias se arrastaram até que ela resolveu reviver. banho-se demoradamente, e saiu cheirando primavera. Notou gente nova nas ruas, gente bonita, interessante. Trocou olhares e até mesmo alguns sorrisos. Se sentiu bem. Se sentiu bonita, como a tempo não se sentia. Se sentiu bem de um jeito que não lembrava ser possível. Viu ali, ao alcance da mão, uma chance de ser feliz de novo. E decidiu, com todas as forças que conseguiu, com toda certeza que conseguia extrair de si, que seria uma outra pessoa. Que teria uma nova vida, independente de outros: ia ser por si.
Caminhou confiante e segura, até que na segunda esquina, quando foi pega pelo improvável. Numa cidade tão grande, na rua de um bairro distante, quem diria, que encontraria fosse seu antigo amor.... As duas tão distraídas quanto apressadas, quando se olharam, engoliram a seco. Nessa fração de tempo, o dia congelou, boca secou, coração disparou, perna bambiou. Meio sorriram timidamente, e prosseguiram o seu caminho.
Seguindo caminhos opostos, foi inevitável que pra cada uma revivesse em pensamento, os últimos dias, semanas, os últimos dois anos 2 meses e 14 dias, com todas as suas cores e sabores.
Saudaram o amor antigo por mais uns três minutos do caminho. Sentiram um aperto no peito, ao mesmo tempo. E finalmente, cada uma seguiu sua vida.

domingo, 18 de maio de 2014

Ser

Tem dias que sou só alegria
Em vários eu sou só musica
Em outros poucos só poesia

Alguns dias sou só tristeza
E viro lágrima
E viro silencio
E solidão

E viro garra,
E viro fé
E determinação
      
E sou esperança,
E viro sábia
E viro criança

Tem dias que sou só futuro
E sonhos
E projeção

Outros sou só passado
E lembrança
E frustração

Hoje não sou barulho
Não sou silêncio.
Nem medo
Nem coragem
Nem amor
ou raiva.
Nem rancor
Ou vaidade

Hoje eu acordei,
Passei o dia
E vou dormir

Sendo saudade

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Reticências...

Vou te esperar,
De vestido novo
De casa limpa
De alma leve.

Vou te esperar,
De lençol trocado
De banho tomado
De braços abertos

Te espero pela manhã,
Com café pronto
mesa posta
E coração apertado

E vamos rir de tudo que foi triste
Vamos tomar uma cerveja gelada
E andar de mão dadas
E dançar sem música
E dormir abraçadas
Como se nada de ruim
Pudesse acontecer

Eu te espero,
Porque sei que você volta.
Não por mim.
Vai voltar por você.
Pela sua liberdade
De poder escolher estar em qualquer lugar,
Mas preferir estar aqui.

Espero você no domingo
Vai ser um dia lindo.
Segundo a previsão,
Vai ter um sol brilhante
E um friozinho aconchegante.

Um belo dia de inverno,
Pra ficar debaixo do cobertor
Tomar chocolate quente,
Fazer amor...

E dizer bonitezas ao pé do ouvido.


terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Se apaixone por mim







Eu só preciso que você se apaixone por mim.



É pedir demais?


Daí a gente se beija,
Se abraça,
Troca carinho,
Faz amor,
Não parece certo?


Somos tão bons juntos
Tão melhores que separados...


Você é tão apaixonante
E eu tão apaixonável


É só o que eu te peço.
Que se apaixone por mim


Podia pedir satisfação
Explicação
Respostas


Mas não preciso de nada disso
só quero seu olhar
apaixonado
sobre o meu
idem


Paixão.


Nem precisa ser amor
Amor se der
Vem depois
Se não der



Deixa pra depois

Música: Mário Cândido 
Letra: Heloisa Mandareli

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Quantos mais desencontros
Serão precisos,
Serão causados
serão doídos ?
Sempre há espaço pro otimismo e a esperança.
Mas hoje não

Hoje o mundo todo é meu quarto escuro


Palavras

Palavras são lanças
Carícias também

Eu sei bem o quanto as minhas cortaram
Mas também me lembro do quanto afagaram

Foram e voltaram tantas vezes
Banhadas de amor
Encharcadas de lágrimas

(in)felicidade a minha
A nossa sorte dita
(mal)dita

Gritadas por vezes
Rasgadas, entrecortadas
Embargadas.

Respostas amargas
Aos teus (des)consertos
     
Ásperas e rudes
      Pra repelir
A ausência posta
A presença (im)posta

Repetições. Repetições. Repetições.

Garganta cansada.
Coração também,
Silencia.


Silêncio.

domingo, 26 de janeiro de 2014

Entrega

Falta
Não o êxtase em si
Mas a troca anterior
Proveniente dê.

Momentos em pausa
Respiração entrecortada
Sussurros indeterminados

Determinantes

Calor trocado
Fluidos
Fluídos.

Unhas, dentes, cabelos,
Pelos, peles,

Unhas e dentes,
Pelos pelos
Pela pele
Pele sobre a pele
Nós em nó.

Em poucos minutos
Horas a fio
Ou dias inteiros.

Muito ou pouco
Tanto faz.

 Mas,
Que seja inteiro
Que seja pleno.

Corpo entregue
Alma nua

Saiba que,
Enquanto durar
Sou sua.

Fotografia: Jéssica Luiza P. Cardoso

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Agora eu vos digo - Música de Mário e Kerlarkyan





AGORA EU VOS DIGO
Não temos nada, estamos numa cilada
Nada é sério, tudo é mistério
E dizem que vão resolver e que tudo vai ser diferente
Lá na frente, vão ajudar todo mundo bis.. só lá na frente
Todos cheios de estórias e sem memória
Homens da nação honrem o brasão
Limpem esse porão, pois tem muito rato pra pouco gato...
Tenham competência e revejam sua consciência já não temos paciência, vão se virar
Por que tudo é emergência e o que nos falta é uma boa gerência
Ó Excelentíssimo, Vossa Excelência

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Grito

É violência quando te deixa roxa
E quando te humilha

É violência quando te dói o físico
E ainda quando te dói o peito

É violência quanto te faz sangrar
Ou simplesmente te faz chorar

É violência quando te agarram na festa
Ou te assoviam na rua
Ou te olham como quem te come

É violência se não respeitam seu “não”
É violência se usam seu estado alcoólico como desculpa

É violência quando te expõe sem autorização
É violência quando querem te impedir de se expor

É violência te obrigar a transar
É violência impedir que você seja sexualmente livre
É violência te cobrar padrões inatingíveis

É violência te obrigar a ser mãe
Ou te impedir de ser mãe

É violência te silenciar.
Então grite!
Grite contra o machismo
O patriarcado
Grite contra os falsos moralistas
Grite pela sua liberdade
Não está só!
Teu grito é nosso grito.
Gritemos por um mundo sem violência
Seja física, simbólica, moral ou psicológica.

Que teu grito exista;
Seja.
Alcance.

Que teu grito seja apenas o começo
De um mundo onde ser mulher
Não seja sinônimo de ser silêncio.




Roubou seu coração

E com ele  toda poesia

Agora pedra era pedra
Chuva era chuva
E o que mais o dicionário dizia

Mas Era tempo de viver inteira

Metades não mais satisfaziam

Tomou uma chuva de versos
Se secou com milhões de rimas
Aqueceu-se com belos poemas
Fez das lágrimas melodias
E musicando palavras de adeus

Deu boas vindas ao novo amor que já vinha