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terça-feira, 28 de maio de 2013


Verbo

Eu julgo
Tu julgas
Ele julga

O mundo gira
Com seus milhões de julgamentos

Os corretos e os incoerentes
Você segue
Remoendo

Condenando cada um que não faz jus
Ao seu ideal de princípios
Moral
E bons costumes.

Ele julga
Nós julgamos
Vós julgais

O mundo gira
Troca tudo de lugar
Te da um pouco do seu próprio veneno

Te mostra o quanto imoral
São eles
E também vós

Você julga
A gente julga
Todos julgam

A vida te põe no lugar do outro
Mostra as dores do outro

Pede piedade
No seu constante julgamento

Parece pegadinha
Estamos sempre trocando de lugar

Mas nós não percebemos
Que não sabemos julgar
E mal sabemos conjugar verbo

sexta-feira, 24 de maio de 2013


Esse Desatino Chamado Ausência

Conter suas lagrimas
Dizer que tudo passou
Não existem magoas.

Lembranças.
Barreiras invisíveis.
Reais

Já passou.
Não dói mais.
Nenhuma célula.

Amnesiar a dor

Reestruturar o templo da confiança
Passar a borracha
Recomeçar
Entrar na nossa máquina do tempo

Voltar

Pro tempo em que a gente se entendia
Se ouvia
Se queria
Com tudo e apesar de tudo

Mas é esse universo imenso de lembrança
Receio,
E mesmo vingança

É confuso,
Complexo
Sentimentos sempre são.

Mas também é simples
A verdade é que sua ausência se fez presente por tanto tempo
Que me acostumei.

domingo, 19 de maio de 2013


Júlia



Júlia sempre teve amores platônicos. Aos 7 anos, foi um primo mais velho, que colava em seus cadernos de escola, adesivos do homem aranha. Júlia achava isso tão legal e juvenil, que passava horas pensando no primo, desenhando pequenas teias de aranha em tudo que era canto.
Aos 10 anos era um cantor de música romântica, enquanto ouvia cada verso, tinha a certeza que o dia que ele a conhecesse os dois se casariam e seria felizes para sempre. Aos 15 um professor de educação física. Aos 16 um vizinho que nem sabia de sua existência. Aos 17 um que pegava o mesmo ônibus que ela em toda segunda quinta feira do mês. Aos 18 seu primeiro chefe. Aos 19 seu médico.
Vivia intensa e platonicamente suas paixões, as pessoas criticavam mas ela sabia no fundo que nenhum desses romances iam dar em nada.  Jamais se declarou. Jamais trocou muitas palavras com qualquer um deles. Mas era feliz assim, vivia vida de sonhadora, não precisava procurar por ninguém, tinha sempre alguém em quem pensar, e sofria pouco, apenas aquele sofrimentozinho platônico que nossas paixões platônicas provocam.
Até que um dia, Júlia conheceu Eduardo, sentava ao seu lado na faculdade. Não era cantor, poeta, professor, não pode nem mesmo ser considerado bonito. Mas tinha um jeito engraçado de arrumar os óculos, um insistente não saber o que fazer com as mão, e uma gentileza com todos que faziam com que ela se derretesse. E era engraçado, fazia Júlia rir, como ela nunca ria, e o principal, gostava dela, queria sair com ela, namorar com ela, casar com ela!
Júlia, que até então, só tinha vivido seus amores platônicos, não sabia o que fazer com esse gostar de quem se pode ter. Se por um lado encantava o sorriso de Eduardo, cada detalhe impar, cada cheiro, tão particular, tão dele... Por outro se apavorava, não sabia o que fazer, ela que sempre amou distante, tinha agora tanto amor ali, na carteira ao lado.
Júlia queria, ficar com Eduardo, queria mesmo. Mas abandonar o conforto de suas paixões platônicas e inofensivas, se por a prova de um relacionamento de verdade, era muito desafiador.
 Sei que todos esperam, um final romântico e talvez uma lição, mas diferente das novelas, e dos filmes, sempre tão felizes e previsíveis, infelizmente com ela foi diferente, não suportou a pressão. Primeiro trancou a matrícula, depois transferiu a faculdade. Continuou sua vida platônica, e como é de se imaginar, não protagonizou nenhuma história de amor.

quarta-feira, 8 de maio de 2013


Maria

Maria sempre gostou de bonecas. Tinha várias delas, do todos os tamanhos e cores. Quando indagada sobre que presente gostaria de ganhar respondia sem pensar: Boneca! Boneca sempre! Aos 4 tinha 8. Aos 7, 23, aos 12 48. Penteava todas com zelo e cuidado que só uma menina delicada como ela, faria. Ajustava-lhes cuidadosamente cada vestido, trançava-lhes os enormes cabelos de boneca. Enfileirava por ordem de tamanho, de idade de beleza ou de “gostamento”.Não havia, tio, vizinha, prima ou conhecida que não se encantasse diante de sua coleção. “Um primor” diziam. “uma riqueza” “que menina cuidadosa” “Uma verdadeira princesa”.
Maria cresceu, guardou com cuidado as bonecas, em uma caixa lacrada, com muito anti-mofo. E seguiu sua vida, entre batons, festas, e escola. Entre os amigos os sapatos e os namoros, ela percebeu que não se cansava de bonecas, Júlias, Amandas e Jéssicas. Continuava colecionando bonecas. De diferente tamanho, cujas brincadeiras eram outras.
Sua mãe quando soube fez um escândalo! O pai desmaiou. A avó não acreditou. Afinal, a menina nunca dera sinais. Os vizinhos faziam fofoca, quem  poderia imaginar, que menina tão menina, não gostasse de.....Shhhh! Todos pensavam, mas falar era proibido! Olhavam-na com estranho pesar,  “mas é tão feminina” diziam uns. “Tão delicada” diziam outros.
Maria se via triste por que não entendia tamanha decepção. Pensava por horas, em mudar de opção, orientação. Ou tirar o vestido e aposentar o batom. Mas por fim resolveu agir da forma que se sentisse melhor, e que quem se incomodasse que desse um jeito de desincomodar. E foi viver sua vida de boneca, do jeito que lhe desse na telha.

Menina

Fica bem menina
Pensa no que vai falar

Atina

Mas não maltrata mais
Esse coração
Cansado de sofrer
Calejado de ilusão

Superando ainda
As últimas pancadas da vida
Embriagando-se a cada dia
 De vodca e de tequila

Esse coração choroso
Curtindo fossa e mpb
Comédias românticas, novela das seis

Coração doente, constipado
De cama

Precisando de um carinho, um chamego
Precisando de cuidado

Ora
Mas não estranhe
Se de perto não parecer tão mal assim

É que esse coração é artista
Atua,
Canta,
Encanta

E tudo isso pode ser verdade
Mas pode ser também
Só mais um dos seus dramas

Sabe como é
Coração com esse jeitinho
Mineiro de ser
Tão quietinho, menina
Mas só chama por você

domingo, 5 de maio de 2013


Não gosto de rimas.


Elas sempre me irritaram
E no entanto, em tudo que escrevo
Em tudo que falo
Estas se fazem presentes

Tal como fossem convidadas
Me afrontam
Petulantes que são
Procuro no dicionário expressões equivalentes

Troco tudo
Inverto palavras
Versos
Repentes

Mas quando releio
As belas estão ali presente
Fico raivosa
Apago cada palavra

Vigorosa

Mas os sinais continuam ali
Tão nítidos quanto fotografias velhas

Que também não gosto de ver.
Coloco na caixa lacrada
Na prateleira mais alta
Não quero lembrar.
Esqueço.

Esqueço tanto
Que volto a olhar
Aquela velha caixa
Sem saber o que vou encontrar

E deparo com elas
As doídas memórias
De outrora
Épocas boas
Que não podem ser mais
Se não apenas lembranças
E por isso dói tanto
Tudo se explica.

Consigo escapar das rimas
Vez ou outra
Assim como de algumas memórias
Mas elas sempre voltam
As rimas
E as velhas histórias.

sábado, 4 de maio de 2013

Sensorial 

Desmanchar-me em ti
Te sorver e sugar

S
entir
S
entir-me em ti
D
ividi-me contigo
C
ompleta

T
ransbordar
E
scorrer pelos dedos
P
elos olhos
P
elos poros
E
scorrer-te nos meus dedos
M
isturar essências
S
abores, cadências
E
xtasiar a troca
F
undir a alma

C
orpos iguais e tão distintos

D
esenhamos com os corpos
B
rincamos com as sombras
imagens inimagináveis

D
esmanchar-me em ti
Q
uente, quieta, sonolenta

R
elembrando cada verso
D
o poema escrito por nós

Heloisa Mandareli