-Eu vomito palavras. Sempre fui assim. Custo a ter coragem
de dizer o que eu sinto, mas quando sai, sai assim, um escarro. Sou péssima pra
dar noticias ruins, vai ser sempre olha, seu cachorro morreu. Sou péssima. Não
é insensibilidade, é só que eu...Vomito palavras.
Risos
Maitê era assim, vomitava palavras, aquelas que geralmente já embrulhavam seu estomago por algum tempo. Às vezes, segurava a ânsia, sempre tendo a impressão de estar se provocando uma úlcera. Mas de um tempo pra cá, tinha decidido, não amargaria com nada sozinha. E se sentiu bem. Algumas pessoas não gostavam do que ela dizia. Paciência. Não dá mesmo pra agradar todo mundo. Chamou seu novo traço de personalidade de bulimia poética. É um bom titulo pra um livro. Ou uma música. Estava começando a conhecer Diogo, e a vomitar palavras nos seus ouvidos.
-Eu gosto de gente sincera. Mas realmente, o mundo não está preparado pra sinceridade. As pessoas se iludem. Dizem querer saber a verdade, mas não querem. A ilusão é um refúgio, e as pessoas... Bem, o ser humano é paradoxal.
Diogo era um garoto cheio de paradoxos. Como, segundo ele todos os seres humanos são. Algumas pessoas podem chamar de hipocrisia, mas pra ele é só que cada um carrega um pouco de tudo dentro de si. Conviver com seus próprios paradoxos, isso sim é um desafio.
-Por exemplo, você não pode acreditar no discurso de uma pessoa sobre ela mesma, porque na maioria das vezes eles não conhecem seus próprios paradoxos. Cada um diz de si, só aquela parte confortável, e inegável. Você por exemplo, diz que vomita palavras, eu poderia acreditar que você fala exatamente sobre tudo que sente, mas eu sei que não é verdade, porque você disse que também é orgulhosa. Encontrou o paradoxo? Uma pessoa orgulhosa jamais vai dizer tudo que sente.
Silêncio
Diogo tinha razão. Ela era orgulhosa e escondia seus sentimentos por ele há algum tempo. Sentimentos esses que reviravam seu estômago todas as noites antes de dormir. Porém, era realmente a única coisa que estava guardando desde que tinha decidido falar sobre tudo. Mas enfim, era seu paradoxo.
Os dois ficaram alguns minutos em silêncio.
-Eu gosto de você. Não como amigo... Estou... Apaixonada. -Vomitou ela
Mais alguns minutos de silêncio.
-Eu já sabia.
-Pode ser sincero, eu prefiro assim.
-Eu não gosto de você
vomitou ele, para a surpresa dela, sem rodeios, sem cuidados.
- Você disse que preferia assim.
-Acho que eu estava enganada.
-Também imaginei isso. Como eu disse, o ser humano e seus paradoxos.
Novo silêncio. Os dois estão deitados numa grama, sob o céu. Seria um cenário perfeito para um começo de romance, mas já que estamos falando em vômitos e paradoxos...
-Me desculpe, mas é que eu gosto de outra pessoa.
-Tudo bem, você não tem que se desculpar.
-Seria mais fácil gostar de você...
-Talvez.
- Mas não podia ser fácil, nem pra mim nem pra você. A vida é uma lama mesmo.
- Pois é cara. Que merda. Que merda...
Terminou a garota engolindo de volta tantas palavras que
queria ter dito e pensando num sério tratamento pra essa bulimia poética.
Doença, que ela mesma tinha inventado pra si.
"Ainda me confundo no paradoxo das coisas... 'As coisas são assim!' Não me conformo... Nem que sejam assim, nem com o paradoxo... Mas tento aceitar o paradoxo, para que fique suspenso...
ResponderExcluirAs coisas suspensas ficam mais ao alcance dos sentidos..."
Linkei seu blog no meu... beijos, flor!
As coisas suspensas ficam mais ao alcance dos sentidos...
ResponderExcluirVou linkar o seu aqui, assim que descobrir como faz isso! rsrs
beijo!