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domingo, 19 de maio de 2013


Júlia



Júlia sempre teve amores platônicos. Aos 7 anos, foi um primo mais velho, que colava em seus cadernos de escola, adesivos do homem aranha. Júlia achava isso tão legal e juvenil, que passava horas pensando no primo, desenhando pequenas teias de aranha em tudo que era canto.
Aos 10 anos era um cantor de música romântica, enquanto ouvia cada verso, tinha a certeza que o dia que ele a conhecesse os dois se casariam e seria felizes para sempre. Aos 15 um professor de educação física. Aos 16 um vizinho que nem sabia de sua existência. Aos 17 um que pegava o mesmo ônibus que ela em toda segunda quinta feira do mês. Aos 18 seu primeiro chefe. Aos 19 seu médico.
Vivia intensa e platonicamente suas paixões, as pessoas criticavam mas ela sabia no fundo que nenhum desses romances iam dar em nada.  Jamais se declarou. Jamais trocou muitas palavras com qualquer um deles. Mas era feliz assim, vivia vida de sonhadora, não precisava procurar por ninguém, tinha sempre alguém em quem pensar, e sofria pouco, apenas aquele sofrimentozinho platônico que nossas paixões platônicas provocam.
Até que um dia, Júlia conheceu Eduardo, sentava ao seu lado na faculdade. Não era cantor, poeta, professor, não pode nem mesmo ser considerado bonito. Mas tinha um jeito engraçado de arrumar os óculos, um insistente não saber o que fazer com as mão, e uma gentileza com todos que faziam com que ela se derretesse. E era engraçado, fazia Júlia rir, como ela nunca ria, e o principal, gostava dela, queria sair com ela, namorar com ela, casar com ela!
Júlia, que até então, só tinha vivido seus amores platônicos, não sabia o que fazer com esse gostar de quem se pode ter. Se por um lado encantava o sorriso de Eduardo, cada detalhe impar, cada cheiro, tão particular, tão dele... Por outro se apavorava, não sabia o que fazer, ela que sempre amou distante, tinha agora tanto amor ali, na carteira ao lado.
Júlia queria, ficar com Eduardo, queria mesmo. Mas abandonar o conforto de suas paixões platônicas e inofensivas, se por a prova de um relacionamento de verdade, era muito desafiador.
 Sei que todos esperam, um final romântico e talvez uma lição, mas diferente das novelas, e dos filmes, sempre tão felizes e previsíveis, infelizmente com ela foi diferente, não suportou a pressão. Primeiro trancou a matrícula, depois transferiu a faculdade. Continuou sua vida platônica, e como é de se imaginar, não protagonizou nenhuma história de amor.

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